Como surgiu o ano bissexto
De tempos em tempos, o calendário tem um dia a mais: o 29 de fevereiro. Esses anos mais longos são chamados bissextos. Por que isso acontece?
E quem nasce em 29 de fevereiro?
No horóscopo, os aniversariantes do 29 de fevereiro são sempre do signo de Peixes. O início do intervalo de um mês que determina quem é desse signo varia um pouco a cada ano (justamente por causa dos anos bissextos), mas fica sempre entre os dias 18 e 20 de fevereiro. Assim, quem nasce no dia 29 não corre nenhum risco de ser de outro signo. Já o mapa astral de cada um é diferente, determinado por particularidades como horário e local de nascimento. Na numerologia, a soma do dia 29 de fevereiro é igual a 2, assim como outros dias do mesmo mês (2, 11 e 20), que têm todos 80% do mapa numerológico iguais – os outros 20% são definidos pelo nome que a pessoa recebe quando nasce.
O calendário que usamos (gregoriano), de 365 dias de 24 horas, tem uma pequena diferença em relação ao tempo que a Terra leva para contornar o sol. O ciclo solar, ou ano trópico, é definido como o intervalo entre o início de duas primaveras consecutivas no hemisfério Norte – indicando um ciclo completo da Terra em torno do sol. Esse período é de 365 dias e aproximadamente 6 horas (na verdade, são 5 horas, 48 minutos, 45 segundos e 216 milésimos de segundo).
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A cada 4 anos, a diferença de horas entre o ano solar e o do calendário convencional completa cerca de 24 horas (mais exatamente: 23 horas, 15 minutos e 864 milésimos de segundo). Para compensar essa diferença e evitar um descompasso em relação às estações do ano, insere-se um dia extra na folhinha e fevereiro fica com 29 dias. Essa correção é especialmente importante para atividades atreladas às estações, como a agricultura e até mesmo as festas religiosas.
Como surgiu o ano bissexto
A descoberta da necessidade dos anos bissextos aconteceu há muito tempo. “Há notícias de dias acrescentados no calendário com esse objetivo desde 324 a.C.”, conta Roberto Boczko, professor de astronomia do Instituto de Astronomia e Geologia (IAG) da Universidade de São Paulo (USP).
Os homens inventaram os primeiros calendários para conseguir se planejar em relação às estações, por causa da agricultura (a maioria das plantas completa seu ciclo nesse período) e das dificuldades climáticas (como invernos rigorosos). Apesar das inúmeras tentativas, descobriu-se que é muito difícil estabelecer um calendário que tenha total harmonia com o ciclo solar.
As diversas tentativas de equiparar os calendários ao ano trópicoeram desordenadas e faziam com que alguns anos fosse muito maiores que outros. Em 46 a.C., havia uma defasagem de 90 dias entre o calendário da época e o início da primavera. Naquele ano, as festas romanas em comemoração à estação mais florida do ano, marcadas para março (que era o primeiro mês do ano), caíram em pleno inverno.
O então imperador romano Júlio César resolveu acertar o relógio. Para resolver os atrasos anteriores, ele esticou aquele ano para 445 dias. A partir dali, instituiu a regra de intercalar, periodicamente, um ano com 1 dia a mais, por sugestão do astrônomo Sofígenes. Ficou combinado que, depois de 3 anos de 365 dias, viria um de 366 dias.
Mas, por confusão ou dificuldade, a regra foi cumprida de maneira diferente: os anos bissextos aconteciam depois de dois anos comuns (um ciclo de apenas 3 anos, e não 4, como quis Júlio César). O erro foi percebido em 10 a.C. e, para compensar, os anos bissextos foram suspensos até 8 d.C. A partir daí, o imperador César Augusto fez com que a regra de Júlio César fosse seguida sistematicamente: três anos comuns, um ano bissexto. Durante séculos a solução juliana resolveu o problema. Mas, no longo prazo, ela mostrou que não era suficiente para garantir a sincronia entre ano solar e calendário e demandou uma nova mudança.
Em 325 d.C., a Igreja Católica decidiu que o início da primavera deveria cair no dia 21 de março, para que combinasse com suas comemorações religiosas. Em 1582, esse dia caiu 10 dias depois do início da estação. O papa Gregório 13 resolveu a questão fazendo com que, em outubro, a contagem de dias pulasse 10 dias. As pessoas foram dormir na quinta-feira dia 4 e acordaram na sexta-feira no dia 15. Além desse acerto forçado (que fez com que a primavera começasse no dia 21 de março do ano seguinte, como a Igreja queria), Gregório 13 propôs um cálculo mais complexo, porém, mais certeiro para os anos bissextos.
Aceitando a sugestão do matemático Cristhovan Clavius, Gregório 13 decidiu que o cálculo passaria a ser o seguinte: continua a valer a regra deum bissexto a cada quatro anos, exceto para os anos que terminam em zero duplo (00). Estes só seriam bissextos uma vez a cada 400 anos.
Continue lendo para ver como o cálculo é feito.
Como calcular anos bissextos
Para saber se um ano será bissexto na regra gregoriana que usamos até hoje faz-se a seguinte conta:
Tente dividir o ano por 4. Se o resto for diferente de 0, ou seja, se for indivisível por 4, ele não é bissexto. Se for divisível por 4, é preciso verificar se o ano acaba em 00 (zero duplo). Em caso negativo, o ano é bissexto. Se terminar em 00, é preciso verificar se é divisível por 400. Se sim, é bissexto; se não, é um ano normal.
Achou confuso? Vejamos na prática como funciona a regra. Tomemos 2008 como exemplo. 2008 é um número divisível por 4 (o resultado é 502) e que não acaba em 00. Logo, esse ano é bissexto. Já o ano 1900 não foi bissexto: é divisível por 4, termina em 00, mas não é divisível por 400. O ano 2000, por sua vez, foi bissexto: é divisível por 4, termina em 00 e é divisível por 400.
A regra de Gregório 13, apesar de ser a mais exata das que existiram, também não resolve totalmente o problema. A cada 3.300 anos seguindo essa regra, o calendário gregoriano terá uma defasagem de 1 dia. Assim, no ano 4.882, o nosso calendário vai estar um dia adiantado com relação ao início da primavera. Ainda não há uma solução planejada para tal ano, já que os astrônomos de hoje em dia resolveram deixar a preocupação para os seus colegas do futuro.
Porque o dia a mais é em fevereiro?
Comecemos explicando por que fevereiro é mais curto que os outros meses.
O primeiro calendário romano foi supostamente bolado por Rômulo (mitologicamente, um dos fundadores de Roma), por volta de 753 a.C. Ele só tinha 10 meses, de 30 ou 31 dias, e o ano durava 304 dias ao todo, segundo o professor de astronomia Roberto Boczko, da USP.
Essa folhinha não estava em sincronia com as estações do ano e, quando o sucessor Numa tomou o poder, instituiu um novo calendário, baseado nas fases da lua com 12 meses de 29 ou 31 dias. Nenhum deles tinha 30 dias porque, nessa época, acreditava-se que os números pares desagradavam aos deuses e, por isso, eram sinal de azar. A soma dos dias do ano, porém, era par (356 dias). Para que o ano inteiro não fosse considerado azarado por ser par, decidiu-se que um mês teria de ser “sacrificado” e ter um número par de dias para que o ano somasse 355 dias.
O escolhido foi fevereiro, considerado na época um mês ruim (“o nome 'fevereiro' foi dado justamente por aquele ser o mês das febres, das cobranças e das execuções judiciárias”, conta Boczko). Arredondar para 28 dias, em vez de 30, foi uma escolha estratégica: o mês azarado deveria acabar o mais rápido possível. Quando surgiu a necessidade de acrescentar um dia ao ano, nada melhor que colocá-lo no mês mais curto.
Mas por que, afinal, o nome é bissexto?
Por que o nome bissexto?
Ao contrário do que muita gente pensa, o nome "bissexto" não vem do fato de o número de dias do ano (366) terminar em 66. A explicação é bem mais complexa.
Em um ano bissexto, o dia extra não é o 29. Na época dos primeiros anos bissextos a intersecção era feita de acordo com os interesses doImpério Romano. O primeiro mês do ano era março, quando começava a primavera (“prima” significa primeira, e “vera”, estação). O primeiro dia de março se chamava “calendas de março”. Foi daí que veio a palavra calendário.
Fevereiro era, então, mês de virada de ano e o costume da época era festejar o ano novo durante os últimos cinco dias do mês. Se o dia extra fosse colocado no fim de fevereiro, o período de folga seria prolongado e o Império Romano não gostou dessa idéia. Foi decidido que a intersecção aconteceria no meio dos dias de trabalho.
O dia 23 de fevereiro era o sexto dia antes do ano novo. Quando o ano era bissexto, um dia útil a mais era colocado na seqüência e tanto o 23 quanto o 24 eram chamados pelas autoridades de “sexto dia antes da calendas de março” (em latim, “antediem sextum Calendas Martii”). O nome "bissexto" vem daí: o ano tinha dois “sextos” antes da calendas de março.
E quem nasce em 29 de fevereiro?
As pessoas que fazem aniversário em 29 de fevereiro têm um problema técnico: só podem comemorar no dia exato uma vez a cada 4 anos - caso dos 6.337 brasileiros que nasceram nesse dia no ano bissexto de 2004. Nos anos que não são bissextos, eles têm de optar pelo dia 28 de fevereiro ou 1º de março. Alguns pais de nascidos nesse dia especial preferem registrá-los no dia anterior ou seguinte, para evitar que isso aconteça. Mas essa é uma escolha feita por mera conveniência, já que nenhum cartório proíbe o registro no dia 29.
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Existe também um mito em torno desse dia: muitos acham que pode ser sinal de mau agouro para quem nasce nele. Isso não passa de lenda, pelo menos na opinião de Roberto Machado, numerólogo presidente fundador da Associação Brasileira de Numerologia, e Antonio Facciollo Neto, presidente do Sindicato dos Astrólogos do Estado de São Paulo.
“É tudo abobrinha”, diz Facciollo. “Do ponto de vista astrológico, não há nada de errado nem com o ano bissexto, nem com o dia 29 de fevereiro”. O problema do ano bissexto é meramente matemático e isso não faz a menor diferença no calendário zodíaco. O mesmo vale para a numerologia:não há nenhuma influência especial do dia ou do ano na soma que define o mapa numerológico natal da pessoa.
©2008 HowStuffWorks |
O ano bissexto nos calendários lunares
Os três calendários lunares mais conhecidos (e usados) na atualidade, são o judaico, o muçulmano e o chinês. Assim como o gregoriano, eles também precisam ser ajustados periodicamente.
Cada ciclo lunar dura aproximadamente 29 dias e 12 horas. Para coordenar datas comemorativas e calendário, alguns meses judaicos têm dias a mais ou a menos, ficando sempre entre 29 e 30 dias. A duração do ano varia entre 353 e 355 dias, ficando geralmente com 354 dias.
iStockphoto As pedras de Stonehenge era utilizadas como observatório astronômico; o objetivo aparente seria observar o nascer e o pôr do sol e da lua, visando a elaboração de um calendário de estações do ano |
Há uma diferença entre 12 dias e quase 6 horas e 10 dias e quase 6 horas entre o calendário lunar e o ano solar. Como algumas festas judaicas também estão atreladas às estações do ano, é preciso corrigir o descompasso periodicamente. O acerto é feito acrescentado um mês inteiro no calendário. O 13º mês é chamado adar sheni (que significa adar segundo), tem 29 dias e fica entre março e abril do calendário cristão-gregoriano. O ano com um mês extra é chamado de ano embolísmico.
O cálculo dos anos embolísmicos é feito dentro de um período de 19 anos (o tempo que leva para que o calendário lunar corrigido e o ano solar entrem novamente em sincronia prefeita). Nesse período, são embolísmicos os anos 3º, 6º, 8º, 11º, 14º, 17º e 19º.
No calendário muçulmano, também lunar, o ano comum tem 12 meses de 29 ou 30 dias e um total de 354 dias. O acerto periódico é feito com o acréscimo de um dia ao último mês do ano (Dhu al-Hijjah), que fica com 30 dias. Os anos mais longos chamam-se anos abundantes. O cálculo também se parece com o judaico: num ciclo de 30 anos, são abundantes os anos 2º, 5 º, 7 º, 10 º, 13 º, 16 º, 18 º, 21 º, 24 º, 26 º e 29 º.